Poesia - Aristides Klafke

Even Fiends Need Friends, by Andy Kehoe

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Pego o P da tecla e o ponho de pausa
Pego o P -- de novo -- e o ponho de pus
Pô-lo de pus depois da pausa veio natural
Meu modo de escrever é assim
O P em minha mão vira pirueta
E para papagaiar a linguagem
Espremo um ponto como espremo um Q
Pego o ponto, e o Q, o bagaço do ponto, e do Q
E os sugo pelo orgasmo que eles dão
Escrevo qama, não cama. Qafka não Kafka
O uso em Qabral, Qamões, Qasmurro...
Com a lingua qabocla que possuo
Falo do amor fadado a rascunho
Do amor pelo eterno indeterminado
Pelo branco, pelo vago, pelo ausente
Escrevo de graça, fiado
Por capricho escrevo francamente
Desfruto de cada sentença
E fé na humanidade -que coisa inclemente!
É o que me faz compor este poema
Por regozijo (palavra é fogo!)
Invoco Dionísio e seus ditirambos
E para o deleite de visionários e videntes
Digo obrigado, muito obrigado, e terra à vista!

[ in Quebrada, inédito ]